segunda-feira, 14 de maio de 2012

Hypnobirthing, o livro (post 1 - Da Celebração ao Medo - Uma história de Mulheres e os Partos)

AVISO - Esse post pode não ter graça nenhuma para quem não está grávida ou não tem interesse em partos naturais.

  Faz alguns meses minha parteira2 recomendou que eu lesse esse livro - Hypnobirthing (algo como hipnoparto ou parto hipnótico), da autora Marie Mongan.  O objetivo era que eu lesse sobre técnicas de respiração e relaxamento para o trabalho de parto. Em princípio o título me desencorajou, pois eu vejo a hipnose com ceticismo (preconceito total, não sei absolutamente nada sobre o assunto, só o que vejo nos desenhos, hehehe). Mas enfim, como eu adoro ler e o livro estava disponível na biblioteca da clínica, então beleza. Trouxe pra casa e li.
  Pois é, não é que o livro me surpreendeu? Apresentou várias informações interessantes (principalmente de anatomia), além de vários exemplos de mulheres que tiveram partos tranquilíssimos, sem nada dos gritos e urros que eu dava quando estava pra ganhar o Nathan, hehehe. O livro explica os motivos históricos que fizeram com que as mulheres fossem ficando cada vez mais assustadas e com mais medo do parto.
  Enfim, resolvi contar aqui, porque o assunto certamente vai interessar para outras gestantes. Fora que serve para eu registrar e ir relembrando também, porque minha memória... bléééé. Obviamente não vou reproduzir o livro aqui, só comentar e traduzir as partes que gostei mais. E lembro que não sou historiadora nem nada. Para contestações, consultem as referências ou façam suas próprias pesquisas. :-) Mas voltem pra me contar, rsrsrs.

1. Da Celebração ao Medo - Uma história de Mulheres e os Partos
    Neste capítulo, a autora fala sobre aquela ideia de que as mulheres sofrem no parto por causa de uma espécie de maldição que Deus teria lançado sobre ela e, por tabela, sobre todas as futuras mulheres do mundo. Ela cita a autora Helen Wessel, que diz:
  "Não há evidências antropológicas para suportar o dogma de que as mulheres de todas as culturas tenham considerado o parto como uma doença ou maldição".
  A autora (Mongan) elabora:
  "Na verdade, há muita evidência afirmando o contrário. Em sociedades menos sofisticadas que não foram influenciadas pela civilização ocidental, mulheres cujo corpo é fisiologicamente idêntico ao das mulheres ocidentais dão à luz praticamente sem alarde e com um mínimo de desconforto"
  A autora então ela analisa de onde veio essa crença da maldição de Eva. Ela diz que lá pelo ano 3000 a.C. as mulheres davam à luz com um mínimo de desconforto (a não ser, é claro, em caso de complicações). Novamente ela comenta que Wessel cita muitas referências na bíblia que falam sobre a benção da maternidade, da procriação e do afeto entre marido, mulher e crianças. Mesmo no tempo de Moisés, os relatos que se têm são de mulheres dando à luz facilmente e com trabalhos de parto curtos, normalmente sem nenhuma assistência. Registros históricos mostram que os trabalhos de parto normalmente duravam menos de 3 horas.
  Nessa mesma época, em outras partes do mundo (tipo Espanha, França, etc) as sociedades giravam muito em torno da natureza e maternidade. Mulheres eram veneradas como as provedoras da vida. As pessoas na época não tinham captado a relação entre sexo e gravidez e achavam que as mulheres simplesmente geravam crianças do nada. Assim, as mulheres eram consideradas quase deusas. Estátuas da época mostravam mulheres grávidas. Elas eram responsáveis também pelas curas, faziam os chás, curativos, etc.
  Mesmo mais tarde, quando os homens passaram na frente na medicina antiga, a atitude em relação ao parto não mudou. Nos relatos de Hipócrates e Aristóteles sobre partos não há nenhum comentário sobre dor em partos normais e sem complicações. As autoras acham que, se as mulheres berrassem de dor, como hoje em dia, eles não teriam "esquecido" de falar sobre o assunto. Na verdade, Aristóteles escreveu é sobre a importância de relaxamento durante o parto. Sorano (outro da escola grega de medicina) também só falava de dor no caso de partos com complicações.
  Mas aí o tempo passou e, no final do 2o. século depois de Cristo, a sociedade começou a mudar, principalmente por influência de cristãos da época. As mulheres passaram a ser segregadas, consideradas inferiores, sujas, etc. Foi nessa época que a maldição de Eva começou a aparecer em traduções bíblicas. Até então, não tinha nada falando de maldição, só a maldição de Deus sobre a terra e a implicação de que a humanidade agora teria que trabalhar para sobreviver.
  A autora diz que Dick-Read fez vários estudos bíblicos em associação com escolares e aprendeu que as bíblias normalmente traduzem a palavra Hebreia etzev com palavras como "trabalho, labuta, esforço". Mas em trechos da bíblia que falam do parto, passaram a traduzir a palavra como "dor, sofrimento, angústia".
  Enfim, segundo Wessel, nunca houve essa maldição sobre Eva. Os tradutores da bíblia é que passaram a traduzir de forma diferente e, na verdade, Deus usou exatamente as mesmas palavras tanto com Adão quanto com Eva.

  Muito mais tarde, na época da Renascença, era comum o uso de clorofórmio em procedimentos médicos. Ainda assim, quando tiveram a ideia de dar pras mulheres, pra aliviar as dores do parto, religiosos diziam que não era certo, porque Deus queria que as mulheres sofressem.

  A autora do livro então comenta que toda essa história de maldição e imundície fazia com que o parto fosse algo extremamente temido pelas mulheres. E hoje a ciência consegue explicar como o medo é um dos maiores causadores de dor. Mais pra frente no livro ela explica melhor essa história.

  Voltando ao estudo histórico, lá por 1800s a rainha Victoria insistiu em usar clorofórmio em seu parto e, a partir daí, mulheres começaram a usar anestesia. E foi por causa da anestesia que os partos começaram a ser feitos em hospitais. Porque a anestesia pode levar a complicações, então o parto precisa de muito mais monitoramento.
  O parto deixou de ser um evento familiar, os maridos não mais participavam e o número de mulheres que morriam por infecções era enorme (ainda não se sabia a importância de lavar as mãos naquela época). Assim, muito mais mulheres morriam em partos nos hospitais do que em casa. Em vilas de pescadores ou lugares isolados onde as mulheres ainda davam à luz em casa, perto de ovelhas, galinhas, etc, complicações e mortes eram raras.
 Mas... a comunicação naquela época era difícil e, então, nos "grandes centros" do mundo a ideia que ficou era de que partos eram perigosíssimos!! Mais um motivo para que as mulheres tivessem medo do parto. Além do medo de sofrer, agora ainda tinham medo de morrer.

  Enfim, no começo do século 19, a maior parte da sociedade já acreditava que as dores do parto eram inevitáveis e então o ideal da época era usar o máximo possível de drogas. Então durante o trabalho de parto davam várias drogas, clorofórmio, etc para a gestante e, quando o bebê começava a coroar, davam anestesia geral. Quando a mulher apagava, usavam fórceps para puxar o bebê pra fora.

Fim do capítulo.
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  Não é interessantíssimo? Pensar que por anos e anos, séculos e mais séculos todas as mulheres davam à luz em 3 horas, com dor mínima, no conforto de seus lares e tudo corria bem (na maioria dos casos, lógico). Aí de repente todo mundo começa a falar que dói, a notícia se espalha, todo mundo fica com medo e hoje temos esse show de horrores. Eu tive dores MUITO FORTES no parto do Nathan.
  O interessante é que no começo do meu trabalho de parto, lá em casa, eu estava tranquilíssima. Tava com contrações de 5 em 5 minutos e ainda assim feliz e contente, em frente ao computador, apertando o play/stop do programinha para monitorar contrações. :-) Ainda tinha esperanças que o bebê ia virar e eu ia ter parto normal. Nisso a minha dilatação já devia estar avançadíssima e eu nem aí. Eu ainda tinha tempo, não estava com muito medo e, talvez por isso, tinha pouca dor.
  Com o passar do tempo, chegando a hora de ir pro hospital, comecei a pensar que ia passar por uma cesárea (meu bebê continuava sentado), comecei a sentir medo da cirurgia e comecei também a sentir dor. Muita dor!!! Lógico que não posso afirmar "Ah, só senti dor porque senti medo". Talvez fosse apenas aquela dor forte que ouço tantas mulheres relatando quando passam de 8cm de dilatação. E nem sei dizer se realmente as duas coisas vieram exatamente ao mesmo tempo, porque minha memória desse dia vai se embaralhando conforme o parto vai se aproximando. Mas, não deixa de ser legal especular. :-) E é sempre bom pensar positivo, pensar que desta vez vai ser diferente.
  Bom, o post já está gigantesco como sempre, então fico por aqui. No próximo capítulo vou falar um pouco sobre as camadas do útero, os músculos e os mecanismos fisiológicos que fazem com que o medo leve à dor.

4 comentários:

  1. Adorei Camila! Vou acompanhar com atenção, estou de 39 semanas e um pouco ansiosa, meu parto será humanizado na maternidade com a Dra. Mariana, minha doula é a Dorothe e a Ana Paula irá receber meu bebê, o Gabriel... Espero que tudo dê certo!
    Beijos,
    Ana Cris Vieira

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    1. Vai dar tudo certo, você está com uma equipe ótima. :)
      Beijo!

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  2. Oi Camila, eu também li um livro muito surpreendente, "Oração de Mãe" que, dentre muitas coisas bacanas, fala da cultura de "rebaixamento" que a mulher grávida sofreu na sociedade por muitos séculos. Antes tidas como imagem da benção da fertilidade, passaram a praticamente serem escondidas em casa (com a desculpa de estarem frágeis, etc). Segundo este livro, novamente o cristianismo/ catolicismo leva boa parte da culpa, porque o sexo virou praticamente o pior dos pecados, e a gravidez era um indicativo muito "óbvio" de que havia sexo no mundo... daí era melhor esconder as grávidas, para não ficar espalhando a ideia.
    Acho interessantíssimo como nós achamos que pensamos muito livremente do alto de nossa (relativa) boa informação. E aí tem momentos que nos questionamos até que ponto grande parte do que pensamos/ vivemos é puramente herança cultural. Por exemplo, aqui no Brasil quase todo mundo que eu conheço acha parto normal muito perigoso.

    Na gravidez da Alice, li um outro livro "A Criança Mágica", que fala que em algumas tribos africanas, o parto é uma coisa super-mega-ultra natural. A mulher se recolhe e tem o filho sozinha, dona da situação.

    Não sei se as leituras ajudaram... meus partos foram realmente rápidos (Glória: menos de 3 horas; Alice menos de 1 hora), mas ainda assim eu senti muita dor, especialmente no da Alice, que não teve ajuda da analgesia, mas em contrapartida, me senti muito mais dona da situação. Brinco com o Sérgio que no terceiro, eu seria praticamente uma monja zen!
    Acho que o medo tem um papel enooorme no processo todo. Acho que o medo da dor, junto com a dor em si, viram uma bola de neve complicada de lidar. Achei super interessante essa ideia de hypnobirth.

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    1. Oi Alessandra.
      Pois é, também já ouvi falar de tribos em que as mulheres entram em trabalho de parto e nem dão bola, simplesmente continuam com seus afazeres e pronto. Aí, quando chega a hora H, se escoram numa parede e catam o bebê. Simples assim, rsrsrs.
      E realmente, seus partos foram muito rápidos!! Uau, menos de 1hora? Não quero nem bater o seu recorde, mas alcançar essa marca já seria ótimo. :)

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